sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Entrevista exclusiva com Dead Fish e Dance of Days

Por Eduardo Kaze

No próximo domingo (1°), o Tupinikim Bar e Restaurante, em Santo André, recebe os shows de Dance of Days e Dead Fish, duas das mais importantes bandas do cenário punk brasileiro. Programado para abrir às 14h, o local espera um enorme público e se prepara para apresentar sua nova estrutura. Ingressos podem ser adquiridos no portal www.ticketbrasil.com.br.

Dead Fish fecha o evento

O Ponto Final realizou entrevista exclusiva com Nenê Altro e Rodrigo Lima, vocalistas do Dance of Days e Dead Fish, respectivamente.

Ponto Final – Como vocês veem a cena do punk rock nacional na atualidade?

Nenê Altro – O punk rock foi e ainda é uma das correntes musicais que mais influenciaram o rock nacional desde os anos 80. Nós mesmos crescemos no meio do movimento punk e ainda temos muita influência de punk rock em nossas músicas. E achamos incrível que muitas das bandas que gostávamos quando novos ainda existam e continuem a tocar, e que sempre apareçam bandas novas nesse segmento. O mais legal do punk rock na atualidade é que hoje é algo muito mais cabeça aberta e tolerante.

Rodrigo Lima – Não vou mais tanto atrás das bandas novas, prefiro que amigos me indiquem algo novo ultimamente. Sempre vi o cenário não só de punk rock, mas de todos os tipos de manifestações, como muito produtivo no Brasil. Se pessoas fossem um pouco mais curiosas nesse país veriam o quanto se produz coisas interessantes e criativas por aqui, de música, passando por tecnologia, grafitti, até vídeo. 

PF – Do que uma banda precisa para viver da música no Brasil (é possível)?

NA – Acho que a banda precisa de muito esforço e de muita dedicação. Principalmente uma banda de rock, que é um estilo cada vez mais deixado em segundo plano em nosso país, precisa acreditar muito no potencial de seu trabalho. Possível é, claro que sim, pois tudo que se planta se colhe, e um bom trabalho sempre reverte em bons resultados. Com um bom planejamento e muito amor pelo que se faz tudo se torna possível.

RL – Definitivamente não existe uma fórmula, seria besteira ficar dando conselhos aqui. Depende sempre muito do que a pessoa quer e precisa pra viver, do que ela cria de expectativas sobre a música que faz, se quer se adequar a um mercado ou não. O que eu diria pra quem ama tocar e quer viver disso é : Primeiro não criar expectativas, fazer porque gosta. Segundo, ter um bom nível de sorte de estar no lugar certo e na hora certa fazendo o que interessa as pessoas e se tornar mais conhecido. Terceiro, ser bem informado não só sobre o instrumento que toca mas, sobre como tomar conta de sua obra, como gravar, como registrar, onde pode tocar, conhecer outras bandas, entender o cenário que esta se metendo, criar uma rede de contatos pra ser o mais independente possível de atravessadores e gente que possa frustrar muitos dos seus sonhos com objetivos "menos nobres" que o teu. Basicamente deixar de ser bobinho sonhador que reclama de tudo, e se tornar uma ferramenta afiada para seus objetivos. 

PF – O Dance of Days é comumente relacionado como uma banda de emocore. Qual sua opinião, tanto em relação a este rótulo, quanto a esta vertente em específico?

NA – Bom, não somos né, até porque a banda nasceu em 1997, muito antes do estilo estourar no Brasil e eu, particularmente, toco em bandas desde os anos 1980. O fato é que fomos relacionados na época porque nunca discriminamos a molecada, na verdade apoiamos muito quando o emo estourou aqui pois incentivou muita gente a tocar guitarra, a formar bandas e até a se envolver com a organização e produção de eventos de rock. 

PF – Tanto o Dance of Days quanto o Dead Fish possuem um viés politizado, perceptível por intermédio de suas letras. Qual a posição política de vocês e como veem o Brasil atual no tocante a sua própria ideologia.

NA – Eu sou anarquista individualista, mas não atrelado a conceitos ultrapassados. Acredito numa ação libertária prática que busque a libertação humana da autoridade através do trabalho conjunto, da desconstrução de valores nocivos e do cultivo de novos hábitos e comportamentos. A banda não tem postura anarquista, mas é anti-fascista, anti-racista e busca passar através da música mensagens construtivas para as pessoas, seja na crítica, no questionamento ou até mesmo no amor, nos bons sentimentos. O Brasil está atravessando um momento delicado, não dá pra saber bem que rumo vai tomar porque tudo é muito maquiado e feito “à base do espetáculo”, mas é bom ouvir as pessoas bem ou mal falando de política novamente nas ruas após tantos anos de apatia. Acho que isso pode gerar uma politização maior na juventude que não é só uma coisa boa, mas necessária e essencial. 

RL – O Dead Fish sempre foi uma banda de postura política à esquerda, sempre foi nítido no que escrevemos desde sempre. O que não quer dizer que internamente as pessoas não se diferenciem em suas posturas políticas. Eu não gosto do que vejo, a esquerda não é exatamente a esquerda no que diz respeito ao Partido dos Trabalhadores e a Dilma. Trata-se de um governo de centro-direita cheio de acordos bizarros e gente ruim mandando e desmandando. Gosto particularmente da Dilma como pessoa, como personagem de uma história bonita de resistência, mas, como presidente, acho ruim, muito ruim. Parando pra olhar aqui, de como o jogo político é posto no Brasil, também me questiono quem poderia fazer alguma diferença. No fim dá tudo no mesmo, é um sistema eleitoral desigual e estúpido, uma república carcomida pelo nepotismo e corrupção desde 1500. Eu particularmente focaria numa postura mais a esquerda, o que necessariamente aumentaria a tensão e provocaria uma guerra de classe mais acirrada do que esta que vemos. À direita não vejo nada. O que seria um pensamento de direita ao estilo Delfin Neto/Roberto Campos no Brasil? A sharia evengélica? Malufismo? Sarney? Veja/globo? Bancada da bala? Não vejo uma postura de direita conservadora nesse país, só a apologia a barbárie e a burrice rasa. O povo adora isso, como uma piada que tu não precisa pensar pra rir. 


Dance of Days apresenta nova formação

PF – O que os fãs podem esperar do show em Santo André? Vocês apresentarão alguma novidade? E 2015, quais as novidades?

NA – Estamos muito ansiosos, gostamos muito do trabalho do Thiago Stival e da Mundo Alternativo, estamos certos de que será um show que ficará na memória de todos! Faremos um show novo, completamente renovado, visto que contamos agora com mais um guitarrista e, além dos sucessos da banda tocaremos muitas músicas que eram bem pedidas e que não tínhamos como tocar com apenas uma guitarra. Será incrível! Neste ano, com o fim da “garage tour 2013-2015,” agora em Abril, poderemos colocar o pé no freio e cuidar mais dos projetos que ficaram encostados durante esse tempo. Temos muitos planos, principalmente agora com a nova formação, para aprimorar nosso show e preparar novos trabalhos. Tenho certeza de que os fãs do nosso trabalho ficarão muito contentes com as novidades que estão por vir!

RL – O ABC sempre é quente. Um dos lugares que mais gosto de tocar e de conversar com as pessoas. É uma região do Brasil que tem uma forma diferente de lidar com política e com a vida cotidiana por ter sido ou ser a maior região industrial do país. O povo é mais gregário, mais simples e não menos curiosos e abertos a muitas formas de expressão. Vamos tocar músicas, algumas, do disco novo que se chama "Vitória". Em 2015, lançaremos este novo álbum e entraremos em turnê.


Acesse a matéria sobre o evento em http://www.pfinal.com.br/

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