quinta-feira, 16 de junho de 2016

‘Projeto Zika’ atenderá gratuitamente crianças com microcefalia e gestantes

Da Redação

Após dois meses de preparativos, com criação de protocolos e fluxos assistenciais, Instituto Neurológico de São Paulo (INESP), Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) e Fundação do ABC (FUABC) estão prontas para iniciar os atendimentos no “Projeto Zika”. Trata-se de iniciativa multiprofissional inédita para atendimento gratuito de crianças com microcefalia e suporte psicológico às mães e gestantes infectadas pelo Zika vírus, com participação de voluntários nas áreas de Neuropediatria, Neurologia, Clínica Médica, Psicologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

O agendamento de consultas já está disponível pelo telefone 4116-9553 (secretária Érica), das 10h às 17h. A triagem ocorrerá no Instituto Neurológico de São Paulo (Rua Maestro Cardim, 808, Bairro Paraiso, São Paulo – próximo ao Metrô Vergueiro). De acordo com o diagnóstico, o seguimento ambulatorial será dividido em consultas no próprio instituto e nos ambulatórios de especialidades da FMABC, em Santo André (Avenida Príncipe de Gales, 821).

Atenção Multiprofissional 

Batizada “Projeto de Atendimento e Assistência - Vírus Zika: a Ética do Cuidar”, a iniciativa surgiu a partir da inquietação da professora de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC e neuroendocrinologista do Instituto Neurológico de São Paulo, Dra. Maria Angela Zaccarelli Marino, frente ao número crescente de bebês com microcefalia e ao desespero de mães e de gestantes, que não sabem como lidar com essa situação.
Dra. Maria Marino é a idealizadora do projeto | Foto: divulgação
“A mídia mostrava dia após dia o aumento dos casos de Zika vírus e, consequentemente, de crianças com microcefalia. Por outro lado, o Brasil não está preparado para essa situação e não possui estrutura adequada, multiprofissional, que atenda integralmente as gestantes e as crianças. Por essa razão comecei a conversar com colegas da Faculdade de Medicina do ABC e do Instituto Neurológico de São Paulo, em busca de voluntários dispostos a abrir espaço em suas agendas para participar dessa iniciativa assistencial e de acolhimento às famílias”, recorda Maria Marino.

A adesão dos profissionais foi imediata e o grupo passou a organizar a logística para os atendimentos, assim como protocolos e fluxos assistenciais. Ao todo são 14 voluntários envolvidos no projeto, que receberá mulheres grávidas com confirmação ou suspeita de infecção pelo Zika vírus, assim como crianças com suspeita ou confirmação de microcefalia. “O objetivo principal é prestar atendimento de alta complexidade, auxiliando e apoiando outras instituições, parceiras ou não, com o diagnóstico, notificações e manejo corretos de cada caso”, define Dra. Maria.

Microcefalia 

A microcefalia é uma malformação congênita, que afeta o desenvolvimento e o crescimento normais do cérebro. Como consequência, o tamanho do crânio do feto ou da criança é menor do que o padrão mínimo para a idade.

As principais causas que levam à microcefalia, ou seja, que afetam o desenvolvimento cerebral, ocorrem ainda dentro do útero materno. A rubéola, a toxoplasmose e o citomegalovírus na gestante são os agentes mais conhecidos que podem ocasionar essa malformação no feto e os obstetras sempre pedem exames para detectar tais agentes infecciosos. A doença também pode ocorrer como consequência do abuso de álcool e drogas ou por questões hereditárias, genéticas.

“Infelizmente, hoje o Brasil vive surto de microcefalia. São milhares de casos registrados em todo o país, cuja causa não é nenhuma das mencionadas anteriormente. O principal problema é o mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue, a febre chikungunya e também o Zika vírus – este último, o grande responsável pelo aumento dos casos de microcefalia”, detalha o professor de Neuropediatria da Faculdade de Medicina do ABC e presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, Dr. Rubens Wajnsztejn, um dos grandes parceiros do “Projeto Zika”.

O Zika fica somente de 4 a 5 dias em circulação no organismo, o que dificulta muito a identificação do vírus. Além disso, muitas dessas infecções apresentam sintomas pequenos e passageiros ou até mesmo nenhum sintoma, fazendo com que a gestante nem sequer suspeite de que foi infectada. Quando ocorrem sintomas perceptíveis, os principais são febre baixa, náusea, dores de cabeça, de garganta, nas articulações e pelo corpo, manchas e lesões na pele. Em alguns casos pode ocorrer conjuntivite.

“As microcefalias não são iguais e são vários os níveis de comprometimento cerebral. Se a infecção da gestante pelo Zika ocorrer no primeiro trimestre da gravidez, a microcefalia será mais grave. Se ocorrer no segundo trimestre, também pode haver um atraso no desenvolvimento do cérebro da criança, porém, um atraso não tão importante quanto no início da gestação”, explica Dr. Rubens .

O tratamento das crianças varia caso a caso e baseia-se na estimulação para o desenvolvimento, com supervisão médica constante e através do apoio de áreas como a fisioterapia, psicologia, terapia ocupacional e fonoaudiologia, entre outras.



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