sexta-feira, 15 de julho de 2016

“Não vamos sair do pé do governador”, afirma Paulo Serra

Por Eduardo Kaze

Eleito, em 2004, o mais jovem vereador andreense, Paulo Serra, seguiu como parlamentar na Câmara até 2012. Em 2013, assumiu o cargo de secretário de Obras e Serviços Públicos no governo de Carlos Grana (PT), atual prefeito. Deixou o cargo em 2015, sob a justificativa de “seguir novos caminhos”.
Paulinho Serra, como é conhecido na cidade, fora eleito pela primeira vez pelo PFL, depois migrando para o PSDB. Quando viu o seu projeto de candidatura à Prefeitura ruir, pois os tucanos andreenses optaram por indicar um vice na chapa de Aidan Ravin, Serra foi acolhido pelo recém criado PSD.
De volta ao PSDB, Serra conseguiu viabilizar sua indicação como pré-candidato à Prefeitura de Santo André.
Em entrevista concedida ao Ponto Final, assinalou ainda a necessidade de aprimorar a mobilidade urbana no município com ênfase em obras do governo do Estado.

Serra deseja conselho de funcionários no Semasa | Foto: Eduardo Kaze

Ponto Final: Quais os principais problemas de Santo André na atualidade?
Paulo Serra: O principal problema é a capacidade de investimento da cidade em serviços públicos de qualidade. Vivemos hoje uma crise orçamentária e financeira, que é a crise mais grave da história de Santo André, por conta de uma década de um modelo de gestão que não funcionou. Nos últimos dez anos a cidade perdeu seu protagonismo econômico, não só na região, mas no Estado de São Paulo. Fomos perdendo investimentos e arrecadação e, ao mesmo tempo, a máquina pública foi sendo "inchada". Essa equação, de uma arrecadação menor, menor atividade econômica, versus um gasto público de pior qualidade e acima do que é arrecadado, gerou uma crise hoje que faz nossa capacidade de investimento ser próxima de zero, para não dizer negativa. Então, falar de qualquer outra área, como Saúde, Segurança ou Educação, sem falar de recuperação econômica é conversa de político, em minha opinião. Não faz sentido. Quem quer fazer uma gestão séria tem que ter o compromisso com a recuperação financeira de Santo André. Nossos estudos e minha experiência de oito anos de vereador, somadas aos dois anos e meio como secretário (de Obras e Mobilidade Urbana), me mostram isso muito claramente. Por isso, temos a convicção de que dá para fazer algo novo, mudando o modelo de gestão, mas também de que é um grande desafio. Temos que, à partir do primeiro dia, equalizar melhor o dinheiro, reduzindo as despesas, e ao mesmo tempo voltar a "plantar", ou seja, gerar emprego e renda. E isso é um resultado de médio prazo. As últimas gestões só "colheram". O último que "plantou", na questão do desenvolvimento econômico, foi o Celso Daniel. Desde que ele se foi, todos só "colheram" e, com essa prática, a "árvore" seca.

Partindo para as áreas, temos Segurança e Saúde. Duas questões primordiais. Tenho andado a cidade toda e ouvido a população, pois não acredito mais na política que o político fala, acredito que a administração deve ouvir primeiro as pessoas. Elas mostraram isso nas manifestações (julho de 2013): elas querem ser ouvidas. Portanto, estamos andando pelos quatro cantos da cidade, mas não para falar, mas para ouvir e dizer que temos um projeto e a convicção de que é possível melhorar a cidade, a qualidade de vida e a qualidade do serviço público. isso tem dado certo. As pessoas estão percebendo que, primeiro, há uma saída. Elas andavam muito sem esperança, e a mensagem que levamos é de esperança. As pessoas estão percebendo, também, que a participação, a escolha que elas fazem, muda a realidade delas. A última eleição presidencial foi muito traumática em Santo André. A cidade percebeu, rapidamente, que a vida piorou com a escolha que o País fez, e é neste sentido que digo que as pessoas hoje querem ser ouvidas.

E é neste momento que Saúde e Segurança aparecem muito presentemente. Na Saúde temos um problema que vai além do sistema público, atingindo o sistema como um todo. Os hospitais particulares, de referência, em Santo André, também têm uma fila de espera grande. Numa média, o ABC, somando público e particular, tem menos leitos do que deveria, mas é claro que na saúde pública a queda na qualidade do atendimento é mais presente. É necessário modernizar a gestão da Saúde. Não é possível fazer milagre, mas dá para melhorar.

E temos a segurança! Tenho disto o seguinte: eu como Prefeito, serei o secretário de Segurança. Quero dizer com isso que é o prefeito quem deve cuidar da cidade. E o que é "ser o secretário": é criar uma força-tarefa, criar uma sala de operações não somente de monitoramente, mas em conjunto com as policias civil, militar, guarda municipal. Equipar a guarda civil municipal, fazer o mapa do crime da cidade, voltar com as rondas e dar estrutura para elas. Ou seja, não é só investimento. É necessário melhorar o investimento, mas é mais gestão do que investimento. Infelizmente, as últimas gestões preferiram apenas transferir a responsabilidade. É muito fácil culpar o Estado, mas ninguém mora no "Estado", as pessoas moram na cidade. Então, pretendemos encarar a questão da Segurança com muita austeridade.

PF: Como essas demandas serão encaminhadas dentro do seu plano de governo? Existem planos para cortes de cargos comissionados e redução de secretarias para buscar esse equilíbrio de contas citados pelo senhor?
PS: O que se discutiu nos últimos quinze anos de gestão pública giram em torno de dois modelos: o Estado mínimo ou o Estado máximo. O PT defende o modelo de Estado "inchado", aparelhado, que é o Estado máximo, comandando todas as ações e dominando até a economia e a sociedade. E muito se discutiu, entre os liberais, o Estado que não tem quase nenhuma capacidade de ação, aquele estado enxuto ao máximo. Eu acredito num modelo no meio, intermediário: nem o mínimo, nem o máximo. Acho que o Estado tem que fazer parcerias com a sociedade civil, sim, mas tem que enxugar. Trabalhamos com um índice de 40% de redução, tanto de comissionados, quanto de secretarias. Não a extinção, mas a junção. As secretarias têm que ser funcionais, o número pouco importa, o conceito é o importante. É claro que vamos ter que cortar, pois não vejo, por exemplo, Esporte, Cultura e Lazer separados; Inclusão Social e Habitação. Se essas áreas, no dia a dia, na prática, já têm integração, por que não estarem no mesmo lugar? E isso representa uma redução de custos, sim! Mas, além dessa redução, o mais importante é o serviço público ser efetivo; dar resultado. A pessoas querem alguém que resolva os problemas do dia a dia. Por exemplo, o Semasa: para as pessoas pouco importa o modelo, se é autarquia, se é Sabesp. O que as pessoas querem é água na torneira. E hoje não tem. Aí se diz: é autarquia, que maravilhoso modelo, mas não está indo água para a torneira das pessoas que pagam a conta. Então a questão administrativa, o conceito de gestão pública, tem que ser pensado para ser funcional, para melhorar a vida das pessoas, e isso foi esquecido em Santo André. Os últimos dez anos mostraram que o serviço público teve uma grande decadência, e a água é uma referência emblemática. Lembro-me de quando o Semasa tinha selo de qualidade ISO 9001 e veja hoje: não tem bairro na cidade que não falte água, desde às chamadas periferias até bairros classe A, B. Falta água em todo lugar.

PF: Em relação ao Semasa, qual seria a solução proposta pelo senhor?
PS Pretendo criar um conselho permanente, com os funcionários do Semasa, para negociar com a Sabesp. Esse conselho tem que discutir a situação do Semasa. O que não dá é para ficar o serviço do jeito que está. É possível equalizar essa divida mesmo com o modelo atual. E se equalizar essa divida e o serviço voltar a ter qualidade, é uma saída. Se com o modelo atual não tiver saída, vamos pensar em outro. Mas quero um conselho com membros da própria autarquia. Seus funcionários devem ser ouvidos, pois eles conhecem, mas o que não dá é para a gente abrir mão da qualidade do serviço. Pretendo criar esse conselho no primeiro dia de governo.

PF: Durante sua atuação na Secretaria de Obras e Mobilidade Urbana ventilou-se que havia estudos de "origem e destino" dos usuários de transporte público na cidade. Como isso é tratado em seu plano de governo?
PS: Esse projeto não teve, infelizmente, continuidade depois que saí. O PT tomou conta e teve uma forma de trabalhar que não é a minha. Respeito, mas discordo. E não foi dado continuidade, principalmente, à revisão dos itinerários, que ao meu ver é fundamental. Temos grandes desafios em matéria de mobilidade urbana: a Linha 18 do Metrô precisa chegar, e vamos pressionar o governador, não vamos sair do pé do governador para que essa linha tenha as obras iniciadas. Há também a Estação Pirelli, que pode absorver até 40% dos usuários da CPTM que vem da região da Vila Luzita, e que não precisarão ir até o Centro para pegar o trem, poderão pegá-lo no fim do Corredor Guarará. Então criamos um eixo na Lauro Gomes, outro no fim da Vila Luzita, na Capitão Mário de Toledo, melhorando muito a questão da mobilidade no Centro. Aí, feito isso, faremos a revisão dos itinerários, que são da década de 1990, e hoje a cidade mudou, temos o Bilhete Único, implantado por nós, e que permite a integração em qualquer ponto da cidade, permitindo uma revolução nos itinerários no sentido de atender os equipamentos que mais atraem usuários. Quando os itinerários de Santo André foram traçados, não tinha o Hospital Mário Covas, nem o Hospital da Mulher, o Poupatempo, os shoppings, existem outros equipamentos, mas só esses já atraem milhares de pessoas. A cidade mudou e os ônibus continuam iguais. A revisão dos itinerários é preponderante, além das obras estruturais do governo do Estado que citei, e repito: não é o fato de ser do PSDB que vai me impedir de cobrar, vamos cobrar governador, sim, pois ele precisa dar atenção para Santo André.

PF: Há atualmente um debate em relação às ciclovias e ciclofaixas da cidade. O que você tem a dizer sobre essas críticas?PS: As pessoas confundem ciclofaixa de lazer e as ciclovias. O munícipe tem o direito de confundir, quem não tem é o gestor público, e vejo muitos candidatos falando bobagem, sem se informar. A ciclofaixa é lazer, não é permanente, não é fixa, não é modelo de transporte, e nossas ciclofaixas de lazer tem 98% de aprovação dos usuários. É um equipamento que atende as necessidades e sou favorável ao modelo implantado. Precisa ajustar porque causa trânsito em horários específicos, sim, tem que ser o melhor possível, talvez reduzir um pouco o período e acabar meio-dia... tudo isso pode ser debatido. Mas é um equipamento que não pode terminar. As famílias usam e muitos bairros têm poucas opções de lazer e as ciclofaixas se tornou uma opção de lazer. As ciclovias, por sua vez, eu mesmo, quando era secretário, fui à campo, nos bicicletários da cidade, e vi a necessidade delas. Existem mais de 700 pessoas que usam a bicicleta para irem até a estação de trens para ir trabalhar. Eu vi, ninguém me contou. Fizemos o cadastro destas pessoas, tanto no bicicletário municipal, quanto no da CPTM, na Estação Celso Daniel. O que não dá, é para admitir um aumento tão grande no custo, de um ano para o outro. Quando eu estava lá, era um custo, e foi feito a outro custo. É necessário entender a razão deste custo. Não estou acusando, mas precisamos entender como chegou a esse valor. E tem a questão das calçadas. Eu jamais admitiria uma ciclovia em calçada que não desse opção aos pedestres. Sou à favor da compartilhada, mas o problema que vejo é não ter dado opção, ter ocupado a calçada inteira. Mas que existe a necessidade de ligação entre o Parque do Pedroso, a Vila Luzita e a Estação da CPTM, enquanto a Estação Pirelli não ficar pronta, existe. E temos que pensar numa solução barata, criativa, funcional, que melhore a vida das pessoas. Não podemos acabar com as ciclovias, é necessário pensar na cidade que queremos, e eu quero uma cidade mais humana, para as pessoas, que não seja dominada pelos carros e dê alternativa de transporte para pessoas de menor renda; e a bicicleta é uma alternativa barata.

PF: Na sua percepção, como o ambiente político, estadual e nacional, influenciará nas eleições municipais?
PS: Vai influenciar muito. Todas as manifestações criaram um espírito crítico muito forte nas pessoas, e isso é positivo. As pessoas perceberam que a escolha delas faz diferença e, nas eleições municipais, faz mais diferença ainda, pois a cidade é o quintal da nossa casa, e as eleições municipais influenciam nossa vida cotidiana. É fácil perceber se a cidade está bonita ou feia, e hoje está feia; se as crianças têm merenda ou não, uniforme ou não... Percebe-se muito rápido. Portanto, acho que esse ambiente trará uma influência positiva, no sentido de tornar os eleitores mais críticos e mais exigentes.

PF: Como seu partido vai se comportar em relação às alianças com outros partidos?
PS: Temos aliança com o PV, PHS, PRTB e o PTB, que é inclusive partido de nosso pré-candidato à vice, que é o vereador Luiz Zacarias.


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