terça-feira, 30 de agosto de 2016

Criado em berço político, Bezerra almeja uma vaga na Câmara andreense

Por Vitor Lima

Willians Bezerra tem 32 anos, é casado, pai de três filhos e filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Como ele mesmo diz, o envolvimento com a política “vem de berço”: ele carrega na bagagem o convívio com Cícero Bezerra da Silva, seu pai, que durante muitos anos atuou no movimento sindical – ele chegou a ser presidente do Sindicato dos Rodoviários do ABC.

Neste ano, pela primeira vez Bezerra tenta uma vaga no legislativo andreense, onde pretende defender o esporte, a descentralização da cultura, melhorias no saneamento e na urbanização, além da ampliação da participação popular. Abaixo, confira a entrevista completa que o postulante à Câmara concedeu à nossa reportagem:

Entre os assuntos abordados na entrevista estão as principais bandeiras da candidatura, a importância do pai na sua formação, dependência química e a gestão de Carlos Grana | Foto: Divulgação

Ponto Final: O que te motivou a sair candidato a vereador? 
Willians Bezerra: O cenário eleitoral, as complicações todas que a gente vem vendo na televisão, os acontecimentos, me levaram a refletir: neste momento a gente precisava ter uma eleição mais pé no chão. Que a gente fosse pra rua, discutir os problemas da cidade, enfrentar as dificuldades de frente, para que a gente pudesse buscar soluções melhores para os problemas que a gente tem. Então eu imaginei que a melhor forma que eu tinha de fazer isso era me afastar da função que eu estava na Prefeitura e me colocar a disposição de um projeto político, de uma candidatura a vereador. Tenho o tempo a meu favor, 32 anos de idade, tenho uma bagagem que desde 2002 pra cá venho trabalhando diretamente com política pública, então me sinto preparado para ocupar esse cargo e decidi ir em busca dele.

PF: Durante o período que você ocupou o cargo de secretário-adjunto na Prefeitura você teve contato intenso com lideranças comunitárias. Quais eram as principais demandas apontadas por elas?
WB: Eu acredito que o legislativo cumpre um papel importante na sociedade. Mas, infelizmente, em alguns momentos o legislativo acaba afastando a população e eu acredito que a participação popular é uma ferramenta importante nas questões democráticas e participativas que a gente tem que juntar e escutar mais as pessoas na rua. Uma coisa é você ouvir uma demanda como secretário adjunto de governo da Prefeitura de Santo André outra coisa é você ir até a casa das pessoas, você ir até a comunidade, entender os problemas para buscar a melhor condição. Nada melhor do que você entender o problema para poder buscar a solução. E o objetivo da candidatura é um pouco isso. É diferente da condição que eu estava, eu atendia demandas de dentro da Prefeitura, de quem me procurava, que surgiam naquele momento. E agora, na batalha da candidatura e no mandato de vereador eu pretendo estar mais diretamente ligado ao povo buscando informações para poder buscar soluções para os problemas. Participação popular é uma bandeira importantíssima e a gente tem batalhado muito. Hoje são votados projeto de grande relevância de terça e quinta-feira na Câmara Municipal e pequena parcela da população fica sabendo disso. A população tem que entender o que está sendo votado na Câmara Municipal, a população tem que estar mais perto das decisões dos vereadores. Acho que a população tem que ocupar este espaço que é dela e a gente tem que achar formas e mecanismos para que eles acompanhem mais de perto a política. 

PF: E quais seriam esses mecanismos? 
WB: Além da Tecnologia da Informação que nós temos hoje a nosso favor, a gente tem que melhorar a forma que a Câmara Municipal se comunica com a população. Acho que a gente tem que buscar o diálogo na rua, não tem outra forma. As pessoas esqueceram um pouco isso, os vereadores ficam nos seus gabinetes e esquecem um pouco de ir à campo entender o que está acontecendo na cidade. Então a gente tem que tirar os vereadores de dentro da Câmara e fazer eles irem até os problemas para buscar a solução. 

PF: Quais serão as principais bandeiras defendidas pelo senhor em um possível mandato?
WB: A participação é uma delas, acho que ela é transversal, ela passa por vária outras linhas. A gente trata a questão do esporte com uma bandeira importantíssima. A gente tem movimentações de mais de 15 mil pessoas no futebol amador da cidade nos finais de semana, e a gente precisa toda essa força de vontade em política pública. Então através de um mandato a gente tem que impulsionar, promover um diálogo com o esporte na cidade, criando canais de comunicação mais direto com a população. Acredito muito na cultura como forma de inclusão. A descentralização da cultura, tirar um pouco a cultura do centro, a gente pode promover através de um mandato esse diálogo com movimentos de cultura da cidade. A busca incansável por mais saneamento e mais urbanização, eu acho que é uma bandeira que a gente tem que defender também. E a questão do comércio local. Então são alguns eixos. Eu teria vários para te dizer, mas acho que participação, a questão do esporte e da educação também. Apoiar o prefeito Carlos Grana na sua reeleição para que ele possa dar continuidade e construir mais creches, que já foram construídas nesta gestão, para diminuir o déficit de vagas. A gente encontra muito essas reclamações pela comunidade, então a gente tem que buscar essa questão também. E esse lance do candidato da cidade. A gente tem tirar essa ideia de candidato do bairro. A gente tem que ter um candidato que compreenda a cidade, que entenda a cidade como um todo e que dialogue políticas para a cidade. A gente escuta muito esse negócio de candidato do bairro. 'Candidato do bairro', 'candidato daquele coletivo' ou 'daquele grupo'. A gente tem que batalhar por um candidato da cidade, que tenha compreensão total do município para poder legislar da melhor forma. 

PF: Qual a importância da atuação sindical do seu pai na sua formação? 
WB: Meu pai foi dirigente sindical, iniciou na década de 70. Foi dirigente da CUT, dirigente do Sindicato os Rodoviários do ABC, foi presidente do sindicato até 1996. (O Contato com política) Vem de berço. A luta pela conquista de direitos pelos trabalhadores me impulsionou na política, me deu uma visão de justiça social que eu carrego desde a minha infância, então foi de berço mesmo. Fui estudar, porque obviamente eu tinha que me cuidar, terminar meus estudos e fui pra área de Tecnologia da Informação, eu sou programador de computador, minha área é a Tecnologia da Informação. A infância, com a questão da justiça social e de direitos no sindicato foi a minha formação ideológica de fato, foi ali que se deu.

"A população tem que estar mais perto das decisões dos vereadores", afirma | Foto: Divulgação
PF: Tenho a informação de que o senhor, anos atrás, sofreu com dependência química. Essa informação procede? Se sim, gostaria de saber se você pensa em formular algum projeto sobre o assunto.
WB: Acho que uma grande maioria passa por essa situação. Do abuso disso ou daquilo. Acho que é uma coisa que acontece, aconteceu comigo, realmente eu passei na minha pré-adolescência, adolescência, essa questão da dependência química. Estou tranquilo, já faz anos que isso aconteceu e hoje tenho uma experiência positiva neste sentido, de fortalecimento de vínculos com as famílias. A questão do esporte tem muito a ver com isso. Eu traço um caminho para tirar a molecada da vulnerabilidade, talvez por esse momento que eu passei na minha vida. Então, hoje dou apoio às entidades, procuro estar perto das entidades assistenciais que tenham esses cuidados com as famílias do dependente, também tem um trabalho aí que eu venho desenvolvendo. Então é uma bandeira que a gente defende também, com certeza. 

PF: O senhor participou da campanha do Grana e participou da gestão do Grana. Gostaria de saber como o senhor avalia a gestão do prefeito nesses quase quatro anos de mandato. 
WB: Positiva, muito positiva. Eu trabalho com o Grana desde 2009, ele ainda era presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos quando ele decidiu ser candidato a deputado em 2010. Então a nossa relação política vem de lá. Então aprendi a respeitar o Grana, ele é um grande articulador que desempenhou muito bem nos papéis, foi deputado estadual com uma votação expressiva, 127 mil votos, se tornou em 2012 nosso candidato a prefeito. Acho que foi uma batalha importante. Mal o conheciam na cidade, tinha 3% da intenção dos votos em 2011, em dezembro, e ganhamos no primeiro e reafirmamos nossa candidatura no segundo turno na eleição de 2012. A gente teve um papel importante, eu me sinto muito parte deste projeto e acho que a gente avançou bastante. O Grana foi um prefeito que fez muito com pouco. A cidade que a gente pegou, com os déficits orçamentários que enfrenta, e enfrentava já no começo da nossa gestão, o Grana vem tentando equilibrar, tentando corrigir falhas da gestão passada que infelizmente deixou a gente numa situação muito desconfortável. E essa crise toda, trazendo muitas dificuldades. A cada dez prefeituras, hoje, nove estão passando por crise financeira. Mas, (a gestão do Grana) eu avalio como positiva, existem várias coisas e vários caminhos que a gente avançou graças a boa articulação do Grana, o bom trato dele, então acho que Grana está de parabéns. 

PF: O senhor acha que o cenário político nacional influenciará nas eleições municipais? 
WB: Eu acho que todo esse cenário nacional acaba influenciando muito mais por pressão da mídia. As pessoas estão sentindo que a questão da movimentação lá em Brasília, e obviamente, muitas coisas ficam incertas, a insegurança acaba predominando nas pessoas. Mas está chegando próximo da eleição e as pessoas estão entendendo que é uma eleição municipal e que essa eleição tem a ver com a vida delas, tem a ver com a vida do bairro, tem a ver com a escola em que o filho estuda, tem a ver com sua relação no bairro. Então eu entendo que essa eleição, até alguns meses atrás, poderia ter formação diferente, mas agora as pessoas conscientizaram que elas têm que eleger o prefeito que vai cuidar, o vereador que vai estar próximo, que vai ser o articulador. Então as pessoas estão municipalizando a eleição como de fato eu acho que tem que ser. A gente vai pensar o cenário nacional em 2018, nas próximas eleições, porque agora nada que a gente disser vai resolver. É lá que está sendo votado, é lá que está tramitando esse processo, se vai ser aprovado ou não eu não sei, não tenho acompanhado com muita proximidade, até porque estou envolvido de fato aqui na eleição. Mas o que estou sentindo na rua é isso: caiu na cabeça das pessoas que a eleição é municipal, dia 2 de outubro elas vão eleger prefeito, eleger o vereador que vai cuidar e vai estar perto do bairro delas e da cidade delas, envolvido com as questões da cidade. Então eu fico feliz com a conscientização das pessoas. A Tecnologia da Informação vem 'pesado', as pessoas pesquisam, as pessoas estão questionadoras e eu acho que isso é bacana. Têm vereadores que estão há tanto tempo aí e não sabem mais o que andar nas ruas para colher a impressão dos moradores e eles vão se prejudicar, porque o povo está esperto, o povo está pesquisando e perguntando mesmo. 

PF: Considerações finais. 
WB: Eu acho que o legislativo andreense precisa de renovação. Um dos propósitos da nossa candidatura é exatamente juventude com a experiência. Então eu queria reforçar que essa renovação precisa acontecer. O cenário eleitoral, essa confusão toda que está acontecendo, ela proporciona essa possibilidade: as pessoas estudarem seus candidatos, entenderem a relação deles com a cidade e buscar a renovação de fato. 

Espaço aberto a todos os candidatos aos cargos eletivos de 2016. Interessados em apresentar suas ideias e propostas aos leitores do Ponto Final escrevam para redacao@pfinal.com.br. 



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