segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Demarcação de terras indígenas é pauta em atividade na aldeia Krukutu

Da Redação

A origem da palavra índio remonta a invasão portuguesa ao continente americano. Procurando uma rota marítima para as Índias, região oriental produtora de especiarias, os colonizadores atribuíram aos habitantes destas terras tal nome genérico, índios. Mas eles eram muito diversos entre eles. Eram centenas de povos, cada um com sua língua, crenças e elementos culturais. Um desses grupos, de língua guarani, reconhecia-se como um povo guerreiro e por isso atribuiu a si o nome Krukutu, palavra que, segundo o cacique Kaíque de Oliveira, significa "lança que vem da terra".

Os Krukutu resistiram e hoje ocupam uma área de preservação ambiental de 25 hectares às margens da represa Billings, na divisa entre o bairro de Parelheiros, extremo sul da capital paulista, e o município de São Bernardo do Campo. A aldeia Krukutu é constituída por 47 famílias, que totalizam cerca de 300 pessoas, das etnias Guarani e Guarani Kaiowá.

Professores e alunos do cursinho Maximize visitaram a aldeia | Foto: Divulgação 

Olívio Jekupé, cacique, milita pela demarcação de terras indígenas e preservação da língua guarani. Segundo ele, como a literatura que aborda temas indígenas foi escrita por brancos, construiu-se uma imagem do índio, pelo brasileiro, diferente da real. Se um observador externo descreve uma cultura, ele a transmite marcada pelo seu olhar. Com o intuito de transmitir um olhar mais fiel, de dentro para fora, Jekupé se tornou escritor e já possui uma vasta obra literária composta principalmente por livros infantis.

Werá Jeguaké, filho de Olívio, escolheu outra esfera da arte para exercer a sua luta pela preservação da cultura Krukutu. Conhecido como #Kunumí MC, Werá é compositor e cantor de rap. Em suas letras, passa a mensagem das lutas de seu povo, com destaque para a questão da demarcação das terras indígenas no Brasil, que representa uma das formas de se garantir a preservação das línguas e culturas indígenas.

Antes da invasão portuguesa, os povos originários ocupavam todo o território hoje pertencente ao Brasil. Hoje, apenas 12,2% dessas terras são destinadas a eles, que são mais de 300 povos e falam mais de 100 línguas diferentes. As regiões demarcadas pertencem à União e são reservadas ao usufruto exclusivo desses povos, assegurando-lhes seu direito originário e possibilitando que essa população desenvolva atividades produtivas que visem a sua sobrevivência e a manutenção de suas tradições.

O processo de demarcação começou na década de 1980 e, até hoje, teve a Fundação Nacional do Índio (Funai) como principal responsável. A Funai fazia os estudos necessários, definia as delimitações e as repassava ao Ministério da Justiça. Este, por sua vez, fazia novos estudos e autorizava a demarcação. Na sequência, a Presidência da República homologava o processo e a demarcação oficial era registrada. 
Demarcação do território é uma das principais demandas da
 população indígena | Foto: Divulgação 

Contudo, em janeiro de 2017, por meio de uma Portaria assinada por Alexandre de Morais, então ministro da justiça, o governo alterou algumas regras para o trâmite da demarcação. Foi criado um Grupo Técnico Especializado, que passou a intermediar a relação entre a Funai e o Ministério da Justiça. Diversos especialistas, naquele momento, apontaram a tentativa do Ministério de burocratizar ‒ e assim dificultar ‒ a homologação das 280 novas demarcações que estão em curso.

O debate da demarcação de terras é delicado pois envolve uma série de atores sociais. Além de indígenas e governo, essas alterações passam por agricultores independentes, grandes grileiros de terras e empresas nacionais e internacionais produtoras de commodities. Ou seja, as definições em torno dessa questão envolvem grupos com interesses muito divergentes. Com pouca força política, sem o apoio do Estado e da Funai, dificilmente os indígenas terão seus direitos originários garantidos legalmente e de forma satisfatória.

Nesse contexto, a militância de líderes indígenas como Olívio Jekupé e Werá Jeguaké se faz ainda mais importante. Com o intuito de levar essa pauta à outras esferas da sociedade, os Krukutu promoveram, junto da ONG Educação e Sustentabilidade, uma atividade especial no primeiro domingo do mês de julho. A aldeia foi aberta aos pré-vestibulandos do cursinho popular Maximize, projeto mantido pela ONG.

A atividade contou com a presença maciça da comunidade Krukutu, do cacique Olívio e do seu filho, Kunumí, além de colaboradores da ONG, professores e muitos alunos do cursinho Maximize. Foram realizadas rodas de conversa com o cacique e demais lideranças da aldeia sobre as vitórias e lutas de seu povo, momentos de música com o Mc Kunumi e de dança tradicional com todos os participantes. Além disso, foram promovidas aulas abertas com os professores presentes para tratar dos aspectos históricos e geográficos relacionados à essa temática tão interdisciplinar.


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