quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O julgamento que mobilizou o país e parou uma cidade.

Por Rafael Monico

Muitos aspectos fizeram do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um grande acontecimento, principalmente a questão de que a decisão tirada pelos três desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em confirmar e ampliar a pena de Lula para 12 anos e um mês, deu um novo direcionamento para as eleições 2018, mesmo com a possibilidade do postulante ao cargo de presidente pelo PT (Partido dos Trabalhadores) não ter seus direitos políticos cassados.

No entanto, para Porto Alegre, cidade onde fica o Tribunal Regional Federal 4 (TRF4), foi um acontecimento histórico. Diferente do que muitos cogitavam, os dias 23 e 24 de janeiro foram intensos, mas sem violência ou quebra-quebra. Comerciantes formais e informais, hotéis e restaurantes comemoraram uma alta que ficou perto dos 30% nos faturamentos. “O Hotel está lotado, e isso não é normal, mesmo neste período de férias, no meio da semana” , comentou Augusto Silva, recepcionista de um hotel no centro da cidade.

Outro fato que ficou marcado pelo julgamento, foi a apropriação dos moradores sobre o tema que seria debatido no TRF4. Em qualquer bar, fila, carro de taxi ou Uber, o assunto era o mais comentado. As opiniões divergentes eram muito debatidas, e independente da visão política, o fato de uma possível condenação ser legal ou não e o quanto isso influenciaria nas eleições 2018 virou pauta.

Os contrários a pena apareciam em maioria, demonstrando o crescimento do entendimento de falta de provas para uma condenação. No entanto, as criticas aos políticos de forma geral se davam sempre em tom conclusivo e amistoso.

Pelas ruas da cidade, apoiadores do ex-presidente eram mais presentes, causando certo constrangimento a qualquer manifestação contrária, porém essa maioria não se dava apenas pelos visitantes de Porto Alegre, mas se confirmava entre funcionários do comercio, garçons e inclusive “Brigadianos”, como são chamados os policiais na região, pelo fato da falta de aumento salarial no serviço público nos últimos anos, que se chocou com a realidade vivida em tempos de governo do Partido dos Trabalhadores em dobrada estadual e federal.

A mídia local enfatizou muito o tema e trazia análises para cada possibilidade do processo, no entanto, os programas de debates de uma emissora local, a TV Pampa, eram direcionados, apoiando a condenação em analises abertas e embasadas nas declarações da condenação em primeira instância e apresentando como argumento o “conjunto da obra”. Apresentadores e debatedores liam participações e entoavam declarações fortes pedindo a afirmação da pena em segunda instância. Quando confirmada, levaram bandeiras e realizaram um programa festivo.

No dia 25, a cidade se esforçou a voltar para a rotina, com sucesso.

Atos contra e atos á favor
No dia 23, um ato realizado no centro da cidade reuniu, segundo a Polícia Militar Gaúcha, cerca de 60 mil pessoas em apoio ao ex-presidente, que junto aos correligionários, artistas e intelectuais, fez um discurso que causou muita emoção aos presentes, afirmando que a não candidatura dele é uma resposta dos setores conservadores do país a continuidade da perda de direitos, mas que isso não significaria ele estar fora de combate. “Estou tranquilo com a decisão que será tirada amanhã, pois eles podem tentar me tirar da eleição, mas não me tirarão da luta por cada cidadão pobre do Brasil”, concluiu Lula.

Contra o ex-presidente, cerca de 1000 pessoas, se reuniram no Parque Moinho dos Ventos, (Parcão), com faixas e cartazes pedindo que o TRF4 mantivesse a sentença do Juiz Sergio Moro. Os manifestantes ficaram concentrados por cerca de uma hora no local.

Mais tarde, por volta das 23hs, manifestantes contra Lula fizeram um ato silencioso, projetando frases pedindo a prisão do ex-presidente em dois prédios da cidade, um na faixada de um hotel 5 estrelas da cidade, na região central, e outro no bairro de Classe Média, Moinho dos Ventos.

No dia 24, após vigília por toda a noite, os que apoiam Lula ficaram concentrados no Anfiteatro do Pôr do Sol, às margens do Rio Guaíba, entre palavras de ordem e discursos de lideranças. As cerca de 30 mil pessoas que estavam no local, ao inicio do julgamento, iniciaram suas voltas para casa logo após o almoço. Quando foi dada a sentença eram pouco mais de 5 mil no local.

Do outro lado da cidade, cerca de 600 pessoas se reuniram, munidas de um Pixuleco do ex-presidente, no Parque Moinho dos Ventos, a partir da hora do almoço. Após a sentença, o numero que tendia a crescer, sofreu revés por conta de uma forte chuva que chegou na cidade minutos depois do voto de terceiro desembargador. Por conta disso, nem comemorações ou atos de revelia foram realizados na cidade.

Obs.: Este texto já havia sido publicado, mas, inexplicavelmente, desapareceu do blog.



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